Por Leo Ladeia
Enquanto assistimos as bravatas de alguns detentores de mandatos que são concedidos – acreditem! – pelo povo através do voto livre, ainda que obrigatório, ou de mandatários escolhidos a partir da representação que também é dada pelo povo aos seus representantes, suas excelências parlamentares das muitas e diversas casas legislativas espalhadas pelo país e que de uma só canetada, conchavo, ou do toma-lá-dá-cá transformam alguns homens, cidadãos comuns em autoridades investidas em cargos específicos no mais alto escalão como os ministros de estados, secretários, magistrados de altas cortes e tribunais de contas, a vaca brazuca, continua indo para o brejo com pompas e circunstâncias.
É que a partir de suas investiduras estas novíssimas autoridades constituídas passam a agir como deuses, semideuses usando características divinas da onisciência e onipresença e transformando a vida de todos os outros cidadãos, legítimos donos do poder num verdadeiro inferno. A cada pronunciamento, e lá se vai um naco do poder originário do povo. A cada canetada e o direito de ir e vir ou de exprimir-se também se vai e a boiada, como diria um desses magnânimos, o Ricardo Salles vai passando deixando o rastro e odor característicos que a boiada sempre deixa ao passar.
Donos do fazer e do não fazer, do permitir e do proibir, cidadãos togados passaram sete longos anos apurando a montanha de papeis que formam o processo contra outra figura destas citadas, Aécio Neves, representante de Minas Gerais, acusado de ter recebido um mimo de R$ 21 milhões da Odebrecht, uma das financiadoras de campanhas políticas. Depois de sete anos gastando uma nota preta para tocar o processo contra Aécio e ele gastando outra nota para se defender usando os recursos que a permissiva lei brasileira permite a justiça brazuca se deu por vencida e o cidadão Aécio Neves que à época do recebimento do suposto mimo disputava a Presidência da República está em paz com Deus, todos os santos, com os homens e a sociedade.
Cá para nós, em qualquer país sério, Aécio seria indenizado pelo mal e pelo constrangimento que passou. Seu processo foi para as calendas, ou se preferem, para a “casa do crica”, esta semana e onde me foi dado a conhecer, Aécio está feliz com o resultado e não deve questionar nada mais sobre o que passou ou gastou nestes sete anos. E não me perguntem o porquê. Quanto ao ministro que bateu o último prego e fechou o caixão do processo anotou como se fora uma certidão de óbito processual no seu relatório final e irrecorrível que a “causa mortis” não foi covid, barriga inchada, nó nas tripas ou decurso de prazo e sim “fragilidades probatórias”.
A ordem para que se promovessem as exéquias sem missa de corpo presente saiu da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal e a certidão de óbito foi assinada pelo Ministro Gilmar Mendes, com o endosso de mais três ministros, sendo que dois deles queriam deixar o Aécio no balão de oxigênio enviando o processo para o TSE ou para a primeira instância da Justiça Federal. Sobre o tema, cito uma observação do jornalista Josias de Souza que nos remete à operação lava jato: “no curto intervalo histórico que separou os escândalos do mensalão e do petrolão, teve-se a impressão de que haveria uma revolução carcerária no país. Hoje, sabe-se que o encarceramento de políticos e financiadores eram pontos fora da curva.” No populacho, Aecio, Inácio, Dilma, Temer, Serra, tudo é ponto fora da curva.
No Brasil as coisas são simples, ou como diria o felizardo Aécio Neves com seu jeitão de mineiro do Leblon, “é tudo papo reto”, ou lembrando o meu velho e querido amigo Zé de Nana, “as coisas são do jeito que tem que ser mesmo que que para isso o rabo tenha que balançar o cachorro.