Se você gosta de artesanato, ou quer conhecer a história da capoeira, não pode deixar de visitar a exposição “A Arte que Encanta” do Mestre Ramos, que fica na Casa da Cultura Ivan Marrocos até o próximo dia 11 deste mês. Ramos saiu de Xapuri (AC) e após passar por Icoaraci em Belém e morar por alguns anos em Vilhena, descobriu que seu lugar era a cidade de Pimenta Bueno por ser a terra onde existe a melhor ARGILA para a confecção de peças de artesanato. Mestre Ramos roda os quatro cantos do Brasil e as vezes vai ao exterior mostrar a sua arte. Arte que não fica só no artesanato, mas, reserva um grande espaço ao Mestre Capoeirista.
Ele está em Porto Velho (RO), mostrando seu trabalho na Casa da Cultura Ivan Marrocos e de vez em quando, presenteia os colecionadores da capital, tocando Berimbau ou Jogando Capoeira. É uma verdadeira aula de Artesanato e Capoeira. Conheça a história do nosso MESTRE RAMOS.
ENTREVISTA
Zk – Vamos a sua identificação?
Ramos – Meu nome é Raimundo Ramos Soares mais conhecido como Mestre Ramos. Eu queria entrar no mérito da exposição: Coloquei um tema aberto com o nome “A Arte que Encanta”. Eu poderia ter colocado só “Cerâmica”, mas, como trabalho com vários segmentos, coloquei esse nome, porque tem pessoas aqui que está expondo: plantas, sementes, enfim, uma série de artesanato. E tem mais um porém, sou Mestre de Capoeira e Percussionista.
Zk – Faltou dizer de onde você é, ou seja, onde nasceu?
Ramos – O Brasil todo me questiona sobre minha origem, quando estou na Bahia, em Recife, em algum lugar, as pessoas perguntam: La em Rondônia tem berimbau, pensei que fosse só na Bahia. Bom, sabe onde eu nasci? O seringal que nasci é Xapuri ao lado de onde foi assassinado o Chico Mendes, só aos 12 anos foi que fui morar em Rio Branco.
Zk – Quando foi que você começou a se interessar pela arte do artesanato?
Ramos – Isso tudo começou em 1978, esse negócio, graças ao meu bom Deus a gente já nasce com ele e apenas vamos sendo lapidado. Minha mãe teve essa preocupação em ter sete filhos e não deixar que nenhum de nós seguíssemos outros caminhos, ou botava a gente no esporte ou na cultura e eu escolhi o artesanato. Sabe aquela paixão a 1ª vista? Foi a Cerâmica e aí a Capoeira, então tudo isso veio junto e então, fiz um apanhado e as pessoas ficam me questionando como explicar o envolvimento com tantas vertentes do artesanato e da música e em vez de estar assistindo televisão eu faço um CAXIXI, um vaso, um instrumento, um brinco, um colar, um berimbau, aprendi a tocar. Esse é meu envolvimento direto com o artesanato.
Zk – Quando você veio para Porto Velho?
Ramos – Cheguei aqui em 1982 e não fui fazer nada que se relacionasse com artesanato. Fui Mergulhar no garimpo de ouro; fui mergulhador durante dois anos e quase morro porque cortaram minha mangueira e eu estava no fundo do rio. Não me pergunte sobre riqueza, porque a riqueza ficou no Rio Madeira.
Zk – Como foi que a cidade de Pimenta Bueno entrou na tua vida?
Ramos – Vou te explicar, morei em Porto Velho por alguns anos, desenvolvi um trabalho com a Rita Queiroz na cerâmica e aí fui daqui pra Vilhena onde morei dois anos e fiz a pesquisa e descobri que lá não tem argila. A argila mais perto de Vilhena é em Colorado e é em terra particular. Alguém me disse que o Polo Cerâmico do estado ficava em Pimenta Bueno. Eu estava no Salão Nacional de Cerâmica em Curitiba e tinha umas pessoas de Pimenta e elas disseram, vai pra Pimenta que lá é o teu lugar. Quando cheguei de Curitiba falei: Arruma tudo que nós vamos embora e me mudei de ‘mala e cuia’ pra Pimenta Bueno.
Zk – Como foi que a Capoeira entrou na sua vida?
Ramos – Teve uma primeira dama do estado do Acre que era apaixonada por cerâmica e ela me custeou, pra eu ir a Belém (PA), com minha família, justamente para Icoaraci. A proposta era pra ficar uns seis meses, em resumo fiquei dois anos, de Icoaraci fui pra Bahia ver a Cerâmica de Feira de Santana e lá surgiu a capoeira na minha vida.
Zk – Sua mulher é de onde?
Ramos – Meu amor realmente, é de Candeias do Jamari e já estamos na estrada há 20 anos comendo caldo de tambaqui com farinha. O nome dela é Railene. Ela também faz um trabalho fantástico de artesanato. Eu digo mais, sabe o que é importante, graças a Deus que Deus me abençoou de ter esse dom de vendedor. Não é todo artesão que é bom vendedor e eu por esse contato de rua, de mundo, acaba que facilita.
Zk – Você é detentor do título de Mestre da Cultura?
Ramos – O título de Mestre que tenho no papel, é o de Mestre da Capoeira. Agora vou pleitear no próximo Edital o título de Mestre Artesão;
Zk – Me tira uma curiosidade. Existe muita feira de artesanato no Brasil?
Ramos – Tem sim! Quando você entra numa Feira de Artesão igual à que vai acontecer em Recife em dezembro, automaticamente você é convidado a participar das demais Feiras. Por eu ser bastante articulado, as notícias chegam com mais facilidade. De repente ninguém sabia que eu estava negociando com o Zoghbi há algum tempo essa exposição aqui na Casa da Cultura em Porto Velho.
ZK – Essa exposição fica na Casa da Cultura até quando?
Ramos – Até o dia 11 deste mês de setembro. Aqui não estou sozinho; de Pimenta Bueno trouxe o artesão o Ralf, mas, também convidei os amigos aqui da capital.
Zk – Hoje você vive do artesanato?
Ramos – Não é bico não, hoje vivo exclusivamente do artesanato, essas contas básicas água, internet, essas coisas, é tudo pago com o que ganho com o artesanato. Por falar nisso tenho obras em vários países como Itália.
Zk – Quais as atrações turísticas de Pimenta Bueno?
Ramos – Uma delas é o “Lago do Apertado” que é um verdadeiro Paraíso. Aí entramos na situação que é a seguinte: A galinha e o pato. A Galinha faz o COCOCO tão alto que divulga seu produto mais fácil e o PATO fica calado, apesar do seu OVO ser mais nutritivo, pouca gente toma conhecimento disso. Aproveito esse espaço, para convidar a população do estado e do Brasil a visitar Pimenta Bueno e seu Lago do Apertado além do seu artesanato.
Zk – Então?
Ramos – Essa exposição veio pra gente acordar, provocar as autoridades. Saindo daqui não volto pra Pimenta vou pra Candeia do Jamari com a exposição, precisamente no Barracão da Capoeira.
Zk – Para encerar. A Pandemia da Covid 19 prejudicou o artesanato?
Ramos – Agora você tocou num ponto que os caras vão dizer: O Ramos ficou rico! Mas, não é isso não; a gente teve que se reinventar. Prejudicou muita gente? Prejudicou! Mas quando me prejudicou de um lado pro outro, me abriu horizontes, o que acontece, eu criei isso aqui na minha casa, o meu quintal é como se fosse aqui na Casa da Cultura, só que no meu quintal a exposição é permanente. O cliente quando chega, as vezes to tomando uma cerveja, se eu não estiver tomando essa cerveja, tem um fogão de lenha lá que é todo tempo CHÁ. Eu trouxe esse hábito lá do Sul, Curitiba e São Paulo. Tem a abertura de fornada que é um evento. A gente tem um mecanismo que chama de plataforma: Instagram, Face Book, WhatsApp e as vendas acontecem: Mestre Ramos estou precisando de 50 vasos de orquídeas, tem? E assim vamos comercializando as peças daquela fornada.
Zk – Endereço para contato?
Ramos – Moro na avenida Belém 609, bairro Nova Pimenta. Meu Instagram é @ramosoleiro.