Política & Murupi
Leo Ladeia
No jantar de ontem a ideia da Câmara dos Deputados era servir um assado de bode como o prato mas conhecedor das iguarias nordestinas e sabendo que o paladar médio da “tchurma do centrão” está mais para a culinária fitness, o Presidente Artur Lira cuidou de retirar o bode da sala e já sem o prato principal, servir a sobremesa, uma espécie de doces, frufrus e petiscos coligados, preparada pelos Cheffs do Centrão, que é o bom da boca. A jogada gastro-política foi boa para todos inclusive ou principalmente para a esquerda que rindo por dentro para esconder a satisfação disse que entre distritão e coligação a coligação é um “mal menor”. Para avivar a memória, esta foi a terceira vez que o plenário da Câmara Federal rejeitou o distritão e se a Câmara não o aceitou já é um indicativo de que no distritão há algo de bom, a menos que se imagine que o nosso Congresso Nacional fosse a instituição séria e responsável que nunca foi. E pior, é nosso retrato. Fomos nós que escolhemos as excelências parlamentares na câmara e senado para que nos representassem.
O leite já foi derramado e não adianta chorar, há os que gostam, os que não gostam, mas está feito e só faltam algumas pontas que são os destaques a serem votados hoje, mas que são só mais uma ou duas gotas de adoçante no cafezinho. Depois o bagulho vai ao Senado que terá até o início do mês de outubro para carimbar o passaporte para a bagunça eleitoral com as coligações e partidos de aluguel dando as cartas, uma baita negociata e principalmente agora com o derrame de dinheiro do fundão e o Congresso assume o papel histórico de um Hobin Wood brazuca às avessas.
O melhor negócio no Brasil é ser dono - todo partido tem um dono - de um partido político forte e o segundo melhor negócio é ser dono de um partido político pequeno e fraco. O dinheiro para abastecer a ambos sai do bolso do contribuinte e de forma legal, via fundão, vai para a mão do dono partido. Oficialmente e legalmente o governo tira de nós, os contribuintes, e investe nos dois. Agora por exemplo com o estrebuchar do distritão que nem nasceu, a bolsa de apostas revela que os partidos nanicos subiram de cotação e estão valendo mais que precatório comprado a preço de banana e, quando já pensavam em fechar as portas, serão promovidos a estrelas da corrupção das próximas eleições, que não por acaso ocorrem a cada dois anos para azeitar e facilitar a máquina de fazer ricos. Para quem não é do ramo e não entende de negociatas é bom ficar de olho. Eleição no Brasil é um negócio espetacular, de baixo risco e alta lucratividade. Dá mais dinheiro que plantar soja ou criar de boi. Basta uma lei camarada, uma urna eletrônica e nem precisa de voto impresso.
Bem, fora a barafunda com a volta das coligações, a Câmara Federal quer votar projetos que visam alterar praticamente toda legislação eleitoral e política do país e há uma reforma que, caso vingue, será a maior – não digo que será a melhor – da história desde a constituição de 1988. É um projeto que pode ser votado já nas próximas semanas e é robusto. São 902 artigos em 372 páginas trazendo algo que julgo relevante, ao limitar as resoluções da justiça para eleições. Nada de mudar em cada eleição. Será uma norma permanente, ampla e geral disciplinando regras eleitorais. Gosto da ideia. Os juízes e tribunais julgam e sentenciam. Quem vive a realidade política e deve produzir as leis e resoluções é o político com assento no Congresso. Talvez seja a hora de começar o trabalho para colocar a casa em ordem e de maneira simples. Estilo ado, ado, ado, cada um no seu quadrado.